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Tiny Bunny

Breath (TulHin); Discussão sobre polêmicas e análise de personagens

 Olá a todos! Ufaa.... Nossa, desaprendi de fazer isso kkkkkk Primeiramente, sim eu voltei depois de muuuitoooo tempo, mas calma!! Não é permanente 😱😱 

Não sei se ainda tem alguém que acompanha esse blog, ou se quem acompanhava ainda vai ver essa publicação, mas de qualquer forma, se vocês olharem as datas das ultimas postagens verão que eu parei de atualizar por aqui desde 2017, e olha que eu comecei o blog em 2012 😨

E bem, eu mudei bastante desde então (não disse que foi pra melhor 😉), e já não tenho tanto tempo como tinha antigamente... uma hora a gente tem que crescer, né? Não pretendo voltar a atualizar o blog como fazia antes, quem sabe esporadicamente quando sentir que tenho algo que gostaria de compartilhar. Também não vou consertar os posts anteriores com links quebrados, fotos deletadas e nem a minha ortografia patética de 4 anos atrás, pois isso daria muito trabalho, e como eu disse, não tenho tempo pra isso kkkkkkk Mas sempre se lembrem de olhar as datas das publicações antes de comentarem ou de associarem essas publicações a esta em questão. 

Aliás vou aproveitar o corpo do texto para salientar que escrevo isso em 2021!! Portanto, lembrem-se disso daqui 4 anos quando eu aparecer de novo em mais uma crise de reflexões.

PRA DEIXAR BEM CLARO OS MEUS GOSTOS NÃO MUDARAM, OKAY? APENAS CRESCI, FAÇO OUTRAS COISAS DA VIDA, AMADURECI ALGUNS PENSAMENTOS, APRENDI MUITA COISA COM O TEMPO E aprendi a escrever de forma aceitável kkkkkkk Porque se eu parar pra ler alguns posts antigos meus olhos irão sangrar.

No fim, o intuito de voltar agora com essa publicação e simplesmente ir embora é que eu estive escrevendo esse texto por um longo tempo para mim mesma, sem a intenção de publicar nem nada, tenho costume de escrever reflexões minhas e simplesmente deixá-las lá, só para eu ler quando quiser me lembrar de alguma coisa, mas aí... não sei, senti vontade de publicar, e talvez me abrir para mais opiniões na intenção de complementarem minha reflexão.

Antes de tudo, proponho uma interação saudável sobre o assunto que estou trazendo. Comentários de repúdio, ódio, deboche e gracinhas ofensivas de pessoas com idade mental de 3 anos que não conseguem conversar como pessoas abertas ao DIÁLOGO, nem serão publicados (afinal eu ainda sou dona do blog e tenho controle sobre todos os comentários, então poupe o trabalho do textão). Aos que estão abertos a uma troca de ideias, sintam-se bem vindos.

A prova de que meus gostos não mudaram nem um pouquinho com o passar dos anos é que nesses últimos 4 anos conheci o mundo dos dramas BLs, e já consumi uma série deles, chineses, tailandeses, coreanos, japoneses, filipinos, entre outros. E em meio a isso tudo conheci o universo de Love By Chance, ou melhor dizendo, o Mame verso. Devo admitir que gosto de uns, mas nem tanto assim de outros. O x da questão é: cheguei até a história de Breath! Sim, antes de qualquer coisa já estava situada sobre as polêmicas que envolvem a autora Mame e suas histórias, mas gosto de tirar minhas próprias conclusões das coisas, então ignorei todos os comentários que avisavam sobre a toxidade de Breath e fui ler a novel no Wattpad, pois sou livre e ninguém manda em mim kkkkkkkk

E é aqui que gostaria de iniciar essa conversa que teremos, mas antes, gostaria de situar os leitores que não conhecem nem Mame, nem Love By Chance e muito menos Breath. Uma breve explicação:

Mame é uma escritora de novels tailandesas de BLs, que se tornaram um fenômeno na Tailândia e fora dela, tanto que algumas de suas novels tiveram adaptações para séries, as quais assisti todas (creio eu). Breath é uma novel do universo de Love By Chance da autora Mame (Orawan Vichayawannakul). Ao todo este universo conta, até o momento, com 16 novels que se cruzam ou se passam paralelamente entre si, sendo elas: TharnType Story 1, TharnType Story 2, TharnType: 7 Years Of Love, TharnType boxset: Walking Together, How To Secretly, How To Change, Love Sand, Fall In Love, My Accidental Love is You, Breath, Test Love, Oatshin’s Diary, Love Storm, Try Me: Phakin x Graph, Try Me: Chai x Win e Wedding Plan.

Não cheguei a ler todas as novels, até porque não são todas que possuem tradução para o português, mas li as principais (pelo menos as mais comentadas). Contudo, hoje o foco será de Breath, okay? Aliás, já vou deixar avisado aqui, essa foi, com certeza, a minha novel preferida. MAS ACALME SUA MÃOZINHA NERVOSA!!! Você já vai entender o por quê, então fica aqui comigo.

(Imagem dos atores Meen Nichakoon Khajornborirak e Est Ravipon Sangaworawong que interpretaram Tul Mettahanan e Gonhin Patapee em Love By Chance 2)

ESSA HISTÓRIA É MUITO PESADA. CONTÉM VIOLÊNCIA EXTREMA, LINGUAGEM IMPRÓPRIA, TEMAS SENSIVEIS, CONTEÚDO SEXUAL E TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS. 

INDICAÇÃO PARA MAIORES DE 18 ANOS.

Isso é definitivamente o que você deveria saber antes de começar a procurar essa novel para ler e decidir se esse é o seu tipo de leitura.


SOBRE O POLITICAMENTE CORRETO NA LITERATURA


Este livro (Breath) tornou-se ainda mais conhecido após a adaptação da novel My Accidental Love is You, escrita por Mame, para uma série de duas temporadas transmitida pela GMM em 2018 (1ª temporada) e 2020 (2ª temporada), na qual eram apresentados os dois personagens principais de Breath e uma breve parte de suas histórias. Esta obra, porém, foi impedida de ganhar uma adaptação com série própria, uma vez que o conteúdo de sua narrativa é muito pesado para boa parte do público.

Não foi a primeira vez que a autora levantou polêmicas acerca de suas histórias. Outras obras do mesmo universo tiveram várias cenas cortadas ou modificadas para que pudessem ser transmitidas como séries televisivas, pois quase todas as histórias da autora são consideradas tóxicas ou perturbadoras por uma parcela de pessoas. Ainda sim, algumas cenas pesadas permaneceram nas séries. Isso se dá ao fato de Mame construir narrativas conturbadas através de personagens e situações problemáticas, porém não distantes da realidade, para no final criar uma relação romântica entre esses mesmos personagens. O que leva uma parte de seus leitores a alegar a romanização de temas sensíveis. 

É aí que surge o questionamento, existe ou, pelo menos, deveria existir o politicamente correto na literatura? Se a resposta for sim, a literatura como um todo tem de ser revista, pois são inúmeros os casos de preconceito, discriminação e violência, uma vez ser impossível um escritor estar fora das influências de seu contexto cultural. Shakespeare teria de ser revisto, pois em O mercador de Veneza o vilão da história é judeu. O mesmo acontece com Charles Dickens, em Oliver Twist, onde o vagabundo Fagin também é judeu. Estariam eles fazendo apologia ao antissemitismo?

Como deve ser lido Monteiro Lobato, Machado de Assis, Shakespeare ou Charles Dickens? Há um modo certo de ler literatura? Serão necessárias notas explicativas em cada contracapa de livro alertando o leitor sobre os perigos das páginas seguintes?

Ao jugarmos tão firmemente a literatura sob essa ótica, a ambiguidade, necessária à literatura, começa a diluir-se: em muitos casos os textos carecem de camadas que permitam diferentes interpretações, lhes faltam temas comprometidos com a política, os direitos humanos, a história recente, o corpo humano, a psique humana, a sexualidade. 

Evidentemente, não somos ingênuos ao ponto de acreditarmos que a literatura não ensina, não educa, não forma ou manipula. Todavia, sendo a literatura a expressão das relações do homem com o mundo, subjacente a ela estão valores e preceitos de seu criador e de uma sociedade em determinada época e contexto. A literatura não pode servir como uma “cartilha de boas práticas”, que dá orientações e instruções claras aos indivíduos de como devem se comportar e que atitudes devem tomar diante das várias circunstâncias da vida, mas educa justamente na apresentação da dualidade, do paradoxo, dos altos e baixos.

E não necessariamente tem o papel de "educar" ninguém, muitas vezes ela vem apenas representar uma realidade. Realidade, às vezes, incomoda... Às vezes, temperada com uma pitada de ficção... Mas ainda, uma realidade humana. Cabe ao leitor, discernir, analisar e interpretar.

É a ficção o lugar da exteriorização dos arquétipos, das manifestações dos conflitos e problemas pertencentes à vida humana, a exemplo do medo, angústias, ansiedades, contradições, expectativas, aspirações, loucuras, desejos, desequilíbrios, crises, sonhos, enfim o comportamento humano. É preciso reservar espaço para a inserção de obras literárias que tratem de temas vários, inclusive os considerados densos e polêmicos, que suscite a pluralidade de ideias e interpretações e que possibilite aos leitores o exercício crítico da realidade.

O bom senso recomenda que tenhamos muita cautela na análise de obras que possam causar incomodo. Cada caso é um caso e tem de ser analisado individualmente. Enredos polêmicos precisam ser preservados justamente para serem analisados, discutidos e despedaçados intelectualmente. 

E não é diferente com esta obra em questão. Como ler Breath e não notar os fascínios da complexidade humana expressos em cada personagem que permeia essa história? Como ignorar os aspectos psicológicos que nos saltam aos olhos e que são a causa do nosso incomodo? Por esta razão lhes convido a uma prévia apresentação dos personagens que iremos acompanhar nesta trama, e uma breve discussão sobre Tul Mettahanan, um dos personagens mais instigantes aqui descrito.


TUL: A PERSONIFICAÇÃO PERFEITA DO CICLO DE ABUSO


A avó de Tul Mettahanan era uma grande e velha classista e purista racial, que não aceitava o casamento do filho com uma mulher britânica comum. Consequentemente, ela o pressionou a se divorciar e nunca reconheceu Tul como seu neto legitimo.

Não só isso, ela odiava Tul ativamente.

Tul foi espancado até a beira da morte por sua avó. Ele foi, em certo momento, sequestrado por pessoas que tentaram chantageá-la por dinheiro, mas sua avó se recusou a pagar o resgate, pois os sequestradores poderiam simplesmente matar o seu neto mestiço, ela não se importaria.

Pior ainda, depois que ela conseguiu expulsar a mãe de Tul, o garoto teve que ver seu pai se casar com uma esposa "apropriada" aos olhos da avó, uma mulher insípida que se preocupa mais com seu estilo de vida socialite do que com sua família. Então, Tul, com 8 anos, quando seu meio-irmão, Tin, nasceu, jurou se vingar de sua avó, estragando o neto que ela tanto queria.

Não devemos responsabilizar uma criança de 8 anos por essa decisão inicial, são as pessoas que a feriram e permitiram que ela prosseguisse com esse plano, que são as culpadas.

Mas quanto mais velho Tul fica, mais ele pode ser responsabilizado por suas ações. Porque, embora às vezes ele pareça se importar genuinamente com Tin, por baixo, essa ideia de vingança e de estragá-lo para manipulá-lo e isolá-lo está sempre lá.

Ele consegue mandar Tin para um colégio interno e compra pessoas para se passarem por seus amigos, usando sua posição de poder sobre Tin para manipulá-lo e levá-lo a se comportar mal, mas também para garantir que ele esteja socialmente isolado.

Já aqui, Tul tem idade suficiente para saber que o que está fazendo é distorcido e errado, mas ele não se importa o suficiente para parar.

Tanto Tul quanto Tin são vítimas de abuso. Este é, basicamente, o tipo de abuso perpetuado por pais que, devido à dinâmica do poder social, podem também terem sofrido abusos de seus próprios pais, perpetuando assim o ciclo do abuso. E é essa a temática principal de Breath, o ciclo interminável de abusos que uma família tão poderosa é capaz de perpetuar em seus próprios descendentes e até mesmo em pessoas intimamente ligadas a ela.

Então, a história de Tul é triste e trágica? Sim. Isso significa que ele deve ser aprovado por abusar ativamente de Tin e perpetuar o ciclo? Não, absolutamente não.

Tul não é emocionalmente capaz de sentir a quantidade de mágoa ou dor que causou a Tin ou Hin. Para se vingar e provar que sua avó estava errada, ele decide se tornar o filho número um e ficar com os bens da família. Por sua mãe, ele deve odiar Tin e sua madrasta por serem a razão de seu sofrimento. Ele continua determinado a evitar qualquer resquício de humanidade que venha a torná-lo “fraco” para seus objetivos, especialmente quando se trata de Tin.

O interessante é que Tul foi quem criou Tin. Tin o via como sua pseudo figura paterna, que o amava e queria ser como ele. Tul estragou Tin tanto quanto admite em sua história, ele diz que fez isso para arruinar Tin e garantir que sua personalidade fosse a mais desagradável possível para que as pessoas não fossem capazes de lidar com ele. Mas antes de qualquer coisa, foi Tul a única pessoa da família a cuidar de Tin desde sua infância, isso sugere um pouco de cuidado fraternal, que provavelmente ele não percebesse, talvez ele estivesse muito danificado e determinado para deixar isso acontecer. Ainda assim, ele consegue fazer com que Tin confie nele de todo o coração, apenas para arruinar sua confiança nas pessoas e no mundo ao seu redor.

Mesmo sem perceber ele faz o que faz com Tin como forma de protegê-lo dos abusos da família, seus planos com Tin definitivamente não são louváveis, ele deseja usar o irmão para elevar sua própria imagem e tirar vantagem da família que ele tanto despreza, mas ao mesmo tempo é ele quem protege o irmão das decisões dos pais, é o responsável por colocá-lo para estudar no exterior e viver longe da toxidade daquelas pessoas, e, em determinado momento admite que teve que impedir que Tin se tornasse uma pessoa mimado e machucasse os outros, ou seja, ele queria impedir que seu irmão se tornasse o seu próprio reflexo.

Tin tem raiva da forma como tratam seu irmão. Mesmo assim, ele nem sabe da metade, não sabe o que a vovó fez com Tul, e não sabia que Tul estava tão quebrado, isso porque Tul sempre lhe mostrou uma máscara positiva. Tul fez Tin parar de confiar nas pessoas, mostrando-se a ele como um vilão. Ele traiu Tin para o seu próprio bem, ele fez isso para Tin crescer e amadurecer, ele fez isso para Tin começar a se proteger, perceber sua ingenuidade em relação às pessoas, e deixar de confiar na dinâmica familiar. É depois que Tul magoa Tin que ele percebe a superficialidade de sua mãe, a dureza de seu mundo e a competição embutida para separá-lo de Tul desde o início.

Tul basicamente fez Tin se tornar mais frio, mais observador e mais protetor em relação a si mesmo e a seus próprios bens. 

Ambos foram transformados em produtos de seu ambiente traumático e foram considerados destinados a se enfrentarem. Tul está psicologicamente danificado, e será difícil para conseguir se restaurar novamente de tudo o que aconteceu com ele.

Há exemplos de humanidade mostrados em Tul, ele aprende a amar seu filho, ele estima Hin e odeia quando ele é magoado por alguém, especialmente Tin, e se sente grato por Tin cuidar de seu filho.

Ele odeia quem ele se tornou, e aconselha seu filho a nunca acabar como ele. Isso sugere que ele não é um vilão que gosta de ferir os outros, mas é uma pessoa que se transformou em alguém psicologicamente instável, que precisa ferir os outros e se vingar para sobreviver. Ele sacrificou seu coração pela chance de chegar ao topo e só depois de atingir o lugar que tanto almejou foi que percebeu que não era aquilo que lhe faria feliz. Não era daquilo que ele precisava, depois de tudo.

O que nos leva a Gonhin Patapee.

Hin, é o servo pessoal de Tul. Ele é filho de empregados da família Mettahanan e originalmente faz amizade com Tul, o que o leva a ser contratado como servo dele. 

Hin vê todo o abuso de que Tul sofre durante anos seguidos, e cria empatia por ele. Também se poderia chamar de co-dependência, porque Hin muitas vezes é pego no fogo cruzado ao lado de Tul, e como um servo ele não pode ir embora, ou talvez fique com ele por um senso de dever e lealdade.

Quando eles ficam mais velhos, Tul começa a se ver como um demônio, quebrado e distorcido pelo abuso da avó, e com o desejo de machucar as pessoas como ele foi machucado. Hin, em sua co-dependência, se oferece a Tul como seu saco de pancadas, onde ele pode se livrar desse excesso de energia violenta, ao invés de se machucar. Então, Hin basicamente permite que Tul o machuque por pena, porque Tul precisa de uma válvula de escape para sua raiva demoníaca.

Tul Mettahanan é um personagem complexo. Ele guarda tanto sofrimento, que impressiona o fato de ainda estar vivo! O que não é uma ideia distante para o próprio Tul, uma vez que quando está em crise ele tende por várias vezes tirar a própria vida, se não fosse por Hin, Tul já teria partido dessa para uma melhor. 

Mesmo sabendo que Hin é a única razão de ainda estar vivo e suportar toda sua carga psicológica, Tul ainda encontra forças para alertar Hin de que ele precisa se afastar ou pode realmente morrer. O problema é que por mais conturbado que Tul seja, Hin sabe que é o único "pilar" de Tul e que, nesse momento, se ele o perder não vai sobreviver.

Tul constantemente tenta ignorar o fato de que seu humor melhora quando está com o Tin, seu meio irmão que ele tanto odeia e manipula, assim como quando pensa sobre Hin de forma tão fria e possessiva, porque ele parece não conseguir entender o que é o amor. Ele tem uma conexão muito forte com Tin e Hin, mas em sua cabeça isso não faz sentido. Todas as pessoas que historicamente falando, deviam amá-lo e protegê-lo, fizeram dele esse propenso serial killer.

Quem não recebe apoio emocional e carinho durante a infância, cresce com esta ferida, com sede por afeto.

Essa necessidade por algo que lhe faltou pode ser demonstrada de duas formas distintas: desenvolvendo carência excessiva ou, num outro extremo, transmitindo a imagem de estar acima das emoções. 

Ou a pessoa acredita que necessita muito do reconhecimento e valorização de seu par ou, por outro lado, que não precisa de ninguém.

No primeiro caso podemos encaixar dois personagens, Tin, que foi criado distante de toda sua família, sendo negligenciado por seus próprios pais, e Hin, um garoto praticamente vendido pelos pais por gratidão à família Mettahanan que lhes deu casa e comida. No segundo caso, associamos facilmente a imagem de Tul, o garoto quebrado. 

Um profundo vazio e falta de carinho gravados em nossas memórias inconscientes, que sabotam nossa vida. Um amor insuficiente na infância às vezes constitui o início de uma cadeia de gerações futuras com problemas. Uma pessoa que não recebeu carinho dos pais, pode acabar repetindo o mesmo padrão com seus filhos. Ou seja, quando não recebemos muito amor na infância, corremos o risco de replicar, sem perceber, o comportamento que conhecemos.

Uma criança submetida à carência de afeto, na idade adulta tende a apresentar imaturidade emocional, será uma pessoa egoísta, sem empatia, irá ter dependência emocional, insegurança em seus relacionamentos, transtornos depressivos, fobias e será uma pessoa egocêntrica e propensa aos vícios. Na verdade, são incontáveis os males que são causados por não ter tido uma criação afetuosa. O medo do abandono faz parte dos padrões que têm adquirido e dos quais serão difíceis de superar.

Como você recebe e dá amor? Você se sente merecedor dele? Você se entrega aos outros ao máximo, esquecendo de si mesmo com frequência? Sente que é incapaz de retribuir o amor de outra pessoa? A resposta que você dá a cada uma dessas perguntas esclarecerá o quanto sua infância foi emocionalmente saudável.

Se quando éramos crianças, não sentíamos a compaixão da pessoa que nos criou, se não sentíamos sua solidariedade, disponibilidade afetiva ou generosidade, como poderíamos aprender a priorizar as necessidades dos outros ao crescermos e nos tornarmos adultos?

Todas as nossas capacidades altruístas, empáticas e sociais dependem da harmonia amorosa com a qual palpitamos durante o estágio primordial de nossas vidas. Portanto, a violência é perpetuada graças à banalização do amor primário.

Pensando dessa forma, a dependência afetiva de Tul pode ser uma consequência do sentimento de exclusão vivido, pois não raro o adulto que foi abandonado, sente extrema dependência do seu parceiro, apresentando, inclusive, um ciúme patológico fora de controle.

O abandono afetivo infantil é uma violência que vai deixar marcas irreparáveis na vida de qualquer criança. Ele vai machucando aos poucos, no dia-a-dia, até a total apatia. O abandono é morte em vida. Portanto, o que é o abandono afetivo? É o sentimento mais miserável que uma criança pode sentir, é a dor mais triste, é o padecer.

Um dos motivos de alguém não demonstrar carinho a outra pessoa é a falta de afeto que ele mesmo não sentiu na infância, ou seja, não foi oferecido a ele esse tipo de sentimento e, assim, ele não sabe como transmitir aos demais.

Não adianta dizer que ele deveria retribuir o afeto de Hin na mesma medida, cada mente é um mundo, essa é a forma doentia que ele sabe lidar com os próprios demônios. 

Como acabar com a carência é uma questão bastante subjetiva. Geralmente o carente de amor já está cheio de sequelas. Deixar de ser carente não é algo que acontece da noite para o dia, já que talvez você tenha passado a infância toda abandonado afetivamente e quem sabe até a adolescência. A ausência de afeto deixa consequências inimagináveis e, às vezes, irreparáveis na pessoa.

Tul foi totalmente negligenciado por seu pai, “criado” por sua avó narcisista e depois teve de suportar sua madrasta igualmente egocêntrica. Algumas crianças criadas por familiares narcisistas reagem a isso se auto protegendo, tornando-se menos sensíveis, mais fechados e extremamente independentes. Fariam tudo o que precisasse ser feito para manipular os outros e tratá-los como se fossem aqueles que lhe causaram tanto mal. Esta é uma espécie de ataque passivo-agressivo direcionado aos seus pais, através de outras pessoas, e você acaba fazendo com os demais o que gostaria de ter feito com seus pais, ou no caso de Tul, seus familiares.

Hin por outro lado sofre de dependência emocional. Na verdade, a linha entre amor e dependência emocional é muito sutil, por isso é muito fácil ultrapassá-la e cair em um relacionamento doentio, onde uma pessoa anula sua personalidade para agradar o outro. O que diferencia um relacionamento amoroso maduro de um relacionamento tóxico?

Muitas vezes, nos relacionamentos, a dependência emocional entra em jogo e a relação, longe de ser uma forma de apoio, se transforma em um obstáculo para o desenvolvimento e até mesmo para a saúde mental dos dois parceiros.

Pessoas que sofrem de dependência emocional se tornam verdadeiros reféns de seu próprio amor. Diante da ausência do outro ou mesmo que estejam vivenciando um vínculo sólido e estável, sofrem tão intensamente de suas angústias e temores de abandono que vivem aprisionadas em seus dias por pensamentos e emoções dolorosas e persistentes.

A dependência emocional vai muito além de um quadro de baixa-autoestima e marca a qualidade do relacionamento e do cotidiano por pensamentos obsessivos, insegurança desproporcional e decisões insensatas.

Dependentes emocionais possuem uma personalidade muito frágil e enfrentam inúmeras dificuldades na tomada de decisões, desde aspectos simples como escolher uma refeição, como decisões mais complexas como uma mudança de emprego ou de moradia. Além de sentirem inaptos para escolhas experimentam extrema dificuldade para considerar e expressar opiniões próprias.

Em graus mais leves ou graves, dependentes emocionais sempre sofrem inúmeros prejuízos em sua qualidade de vida, saúde física e mental além de estarem mais vulneráveis a situações de violência. Por experimentar tantos medos e abdicar de seus valores e opiniões em nome do outro, estas pessoas ficam mais vulneráveis a se envolverem em relacionamentos abusivos e não reagirem diante de qualquer tipo de violência por seu medo de abandono.

O amor não é o mesmo que carência. Duas pessoas verdadeiramente apaixonadas podem confiar, respeitar e aceitar umas às outras. Essas coisas raramente estão presentes em um relacionamento onde há dependência emocional. O verdadeiro amor envolve conhecer e amar a si mesmo e depois dar o mesmo a outra pessoa. É assim que dois seres humanos são capazes de construir uma vida feliz juntos. Uma pessoa caída em um padrão de relacionamentos emocionalmente dependentes, precisa passar algum tempo sozinha para se encontrar. Isso parece assustador. No entanto, se puder fazer isso, ela vai descobrir que aprender a conhecer e amar a si mesma é a coisa mais poderosa que um ser humano pode fazer.

Felizmente, se percebermos a tempo, podemos reverter isso e canalizar essa energia de maneira positiva, em direção a um amor maduro que permita que ambas as pessoas cresçam e se complementem.

Os personagens da Mame são sombrios, distorcidos e incrivelmente falhos. Ainda assim, há essa profundidade neles que nunca pode ser totalmente exposta. Há conflitos de moralidade, normas e percepções sociais sobre as ações dos personagens.

O questionamento que fica é: Breath é realmente uma história de amor? De qualquer forma não dá pra negar que é muito interessante de acompanhar. 


"Não existe livro moral ou imoral. Livros são bem escritos ou mal escritos. Isso é tudo."  Oscar Wilde, Retrato de Dorian Gray, 1891.


"Você provavelmente tem que ser a pessoa mais infeliz do mundo ao nascer para amar alguém como eu" Tul Mettahanan